sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O livro dos Espiritos

Sexo nos Espíritos

200 Os Espíritos têm sexo?

– Não como o entendeis, porque o sexo depende do organismo físico. Existe entre eles amor e simpatia, mas fundados na identidade dos sentimentos.

201 O Espírito que animou o corpo de um homem pode, em uma nova existência, animar o de uma mulher e vice-versa?

– Sim, são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres.

202 Quando está na erraticidade, o Espírito prefere encarnar no corpo de um homem ou de uma mulher?

– Isso pouco importa ao Espírito. Depende das provas que deve suportar.

☼ Os Espíritos encarnam como homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, assim como cada posição social, lhes oferece provas, deveres especiais e a ocasião de adquirir experiência. Aquele que encarnasse sempre como homem apenas saberia o que sabem os homens.
Parentesco, filiação

203 Os pais transmitem aos filhos uma porção de sua alma ou limitam-se a dar-lhes a vida animal a que uma nova alma, mais tarde, vem acrescentar a vida moral?

– Dão-lhe apenas a vida animal, porque a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes e vice-versa.

204 Uma vez que tivemos diversas existências, o parentesco pode recuar além de nossa existência atual?

– Não pode ser de outra forma. A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos laços que remontam às existências anteriores. Daí muitas vezes decorrem as causas de simpatia entre vós e alguns Espíritos que vos parecem estranhos.

205 Por que, aos olhos de certas pessoas, a doutrina da reencarnação se apresenta como destruidora dos laços de família por fazê-los recuar às existências anteriores?

– Ela não os destrói. Ela os amplia. O parentesco, estando fundado em afeições anteriores, faz com que os laços que unem os membros de uma mesma família sejam mais vigorosos. Essa doutrina amplia também os deveres da fraternidade, uma vez que, entre os vossos vizinhos, ou entre os servidores, pode-se encontrar um Espírito que esteve ligado a vós pelos laços de sangue.

205 a Ela diminui, entretanto, a importância que alguns atribuem à sua genealogia5, uma vez que se pode ter tido por pai um Espírito que pertenceu a outra raça, ou tendo vindo de uma condição bem diversa?

– É verdade, mas essa importância está fundada no orgulho. O que essas pessoas honram em seus ancestrais são os títulos, a posição, a fortuna. Alguém que coraria de vergonha por ter tido como antepassado um honesto sapateiro se gabaria de descender de um nobre corrupto e debochado. Mas o que quer que eles digam ou façam, não impedirão as coisas de ser o que são, porque Deus não formulou as leis da natureza de acordo com a vaidade deles.

206 Do fato de não haver ligações de filiação entre os Espíritos de descendentes da mesma família, segue-se que o culto aos ancestrais seja uma coisa ridícula?

– Certamente que não. Todo homem deve considerar-se feliz por pertencer a uma família em que encarnam Espíritos elevados. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, têm afeição aos que lhe estão ligados pelos laços de família, porque esses Espíritos são freqüentemente atraídos a esta ou àquela família em razão de simpatias ou ligações anteriores. Mas, ficai certos: os Espíritos de vossos ancestrais não se sentem honrados pelo culto que vós lhes ofereceis por orgulho. O valor dos méritos que tiveram só se refletirão sobre vós pelo esforço que fizerdes em seguir-lhes os bons exemplos, e, só assim, então, vossa lembrança pode lhes ser agradável e útil.
Semelhanças físicas e morais

207 Os pais transmitem muitas vezes a seus filhos a semelhança física. Eles também lhes transmitem alguma semelhança moral?

– Não, uma vez que têm almas ou Espíritos diferentes. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças há apenas consangüinidade.

207 a De onde vêm as semelhanças morais que existem algumas vezes entre os pais e filhos?

– São Espíritos simpáticos atraídos pela semelhança de suas tendências.

208 O Espírito dos pais tem influência sobre o do filho após o nascimento?

– Há uma influência muito grande. Como já dissemos, os Espíritos devem contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm como missão desenvolver o de seus filhos pela educação. É para eles uma tarefa: se falharem, serão culpados.

209 Por que pais bons e virtuosos geram, às vezes, filhos de natureza perversa? Melhor dizendo, por que as boas qualidades dos pais nem sempre atraem, por simpatia, um bom Espírito para animar seu filho?

– Um Espírito mau pode pedir pais bons, na esperança de que seus conselhos o orientem a um caminho melhor e, muitas vezes, Deus lhe concede isso.

210 Os pais podem, por seus pensamentos e preces, atrair para o corpo de um filho um Espírito bom em preferência a um Espírito inferior?

– Não, mas podem melhorar o Espírito do filho que geraram e que lhes foi confiado: é seu dever. Filhos maus são uma provação para os pais.

211 De onde vem a semelhança de caráter que muitas vezes existe entre dois irmãos, especialmente entre gêmeos?

– Espíritos simpáticos que se aproximam por semelhança de sentimento se que se sentem felizes por estar juntos.

212 Nas crianças cujos corpos nascem ligados e que possuem certos órgãos em comum há dois Espíritos, ou melhor, duas almas?

– Sim, há duas, são dois os corpos. Entretanto, a semelhança entre eles é tanta que se afigura aos vossos olhos como se fossem uma só6.

213 Visto que os Espíritos encarnam como gêmeos por simpatia, de onde vem a aversão que se vê algumas vezes entre eles?

– Não é uma regra que os gêmeos sejam Espíritos simpáticos. Espíritos maus podem querer lutar juntos no teatro da vida.

214 O que pensar das histórias de crianças gêmeas que brigam no ventre da mãe?

– Lendas! Para dar idéia de que seu ódio era muito antigo, fizeram-no presente antes de seu nascimento. Geralmente vós não levais em conta as figuras poéticas.

215 De onde vem o caráter distintivo que se nota em cada povo?

– Os Espíritos também se agrupam em famílias formadas pela semelhança de suas tendências mais ou menos depuradas, de acordo com sua elevação. Pois bem! Um povo é uma grande família na qual se reúnem Espíritos simpáticos. A tendência que têm os membros dessas grandes famílias os leva a se unirem, daí se origina a semelhança que existe no caráter distintivo de cada povo. Acreditais que Espíritos bons e caridosos procurarão um povo duro e grosseiro? Não, os Espíritos simpatizam com as coletividades, assim como simpatizam com os indivíduos; aí estão em seu meio.

216 O homem conserva, em suas novas existências, traços do caráter moral de existências anteriores?

– Sim, isso pode ocorrer; mas ao se melhorar, ele muda. Sua posição social pode também não ser mais a mesma. Se de senhor torna-se escravo, seus gostos serão completamente diferentes e teríeis dificuldade em reconhecê-lo. Sendo o Espírito sempre o mesmo nas diversas encarnações, suas manifestações podem ter uma ou outra semelhança, modificadas, entretanto, pelos hábitos de sua nova posição, até que um aperfeiçoamento notável venha mudar completamente seu caráter; por isso, de orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e bondoso, desde que se tenha arrependido.

217 O homem, pelo Espírito, conserva traços físicos das existências anteriores em suas diferentes encarnações?

– O corpo que foi anteriormente destruído não tem nenhuma relação com o novo. Entretanto, o Espírito se reflete no corpo. Certamente, o corpo é apenas matéria, mas apesar disso é modelado de acordo com a capacidade do Espírito que lhe imprime um certo caráter, principalmente ao rosto, e é verdade quando se diz que os olhos são o espelho da alma, ou seja, é o rosto que mais particularmente reflete a alma. É assim que uma pessoa sem grande beleza tem, entretanto, algo que agrada quando é animada por um Espírito bom, sábio, humanitário, enquanto existem rostos muito belos que nada fazem sentir, podendo até inspirar repulsa. Poderíeis pensar que apenas os corpos muito belos servem de envoltório aos Espíritos mais perfeitos; entretanto, encontrais todos os dias homens de bem sem nenhuma beleza exterior. Sem haver uma semelhança pronunciada, a similitude dos gostos e das inclinações pode dar o que se chama de um ‘ar de família’.

☼ Tendo em vista que o corpo que reveste a alma na nova encarnação não tem necessariamente nenhuma relação com o da encarnação anterior, uma vez que em relação a ele pode ter uma procedência completamente diferente, seria absurdo admitir que numa sucessão de existências ocorressem semelhanças que não passam de casuais. Entretanto, as qualidades do Espírito modificam freqüentemente os órgãos que servem às suas manifestações e imprimem ao semblante, e até mesmo ao conjunto das maneiras, um cunho especial. É assim que, sob o envoltório mais humilde, pode-se encontrar a expressão da grandeza e da dignidade, enquanto sob a figura do grande senhor pode-se ver algumas vezes a expressão da baixeza e da desonra. Algumas pessoas, saídas da mais ínfima posição, adquirem, sem esforços, os hábitos e as maneiras da alta sociedade. Parece que elas reencontram seu ambiente, enquanto outras, apesar de seu nascimento e educação, estão nesse mesmo ambiente sempre deslocadas. Como explicar esse fato senão como um reflexo do que o Espírito foi antes?
Idéias inatas

218 O Espírito encarnado conserva algum traço das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu em suas existências anteriores?

– Ele possui uma vaga lembrança, que lhe dá o que se chama de idéias inatas.

218 a A teoria das idéias inatas não é, portanto, uma fantasia?

– Não, os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem. O Espírito, liberto da matéria, sempre os conserva. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que conserva deles o ajuda em seu adiantamento. Sem isso, teria sempre que recomeçar. A cada nova existência, o Espírito parte de onde estava na existência anterior.

218 b Pode, então, haver um grande vínculo entre duas existências sucessivas?

– Nem sempre tão grande quanto podeis supor, porque as posições são freqüentemente muito diferentes e, no intervalo delas, o Espírito pode ter progredido. (Veja a questão 216.)

219 Qual é a origem das faculdades, das capacidades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, como a língua, o cálculo, etc.?

– Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas do qual nem mesmo ela tem consciência. De onde quereis que esses conhecimentos venham? O corpo muda, mas o Espírito não, embora troque de vestimenta.

220 Ao mudar de corpo, podem-se perder alguns talentos intelectuais, não mais ter, por exemplo, o gosto pelas artes?

– Sim, se desonrou esse talento ou se fez dele um mau uso. Uma capacidade intelectual pode, além do mais, permanecer adormecida numa existência, porque o Espírito veio para exercitar uma outra que não tem relação com ela. Então, qualquer talento pode permanecer em estado latente para ressurgir mais tarde.

221 É a uma lembrança retrospectiva que o homem deve, mesmo no estado selvagem, o sentimento instintivo da existência de Deus e o pressentimento da vida futura?

– É uma lembrança que conservou do que sabia como Espírito antes de encarnar; mas o orgulho muitas vezes sufoca esse sentimento.

221 a É a essa lembrança que se devem certas crenças relativas à Doutrina Espírita e que se encontram em todos os povos?

– Essa Doutrina é tão antiga quanto o mundo; eis por que pode ser encontrada em toda parte, sendo uma prova de que é verdadeira. O Espírito encarnado, conservando a intuição de seu estado como Espírito, tem, instintivamente, a consciência do mundo invisível, freqüentemente falseada pelos preconceitos, acrescida da ignorância que a mistura com a superstição.

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