quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Não se pode servir a Deus e a Mamon

Mamon, a quem Jesus colocava frente a Deus, conclamando os homens a escolher entre eles, era a divindade fenícia da riqueza. Essa foi uma figura muito forte usada para advertir aos que se prosternavam ante o ouro, esquecendo-se da hierarquia dos valores verdadeiros do Espírito e do coração. Ao moço que lhe perguntava o que devia fazer para conseguir a vida eterna, além de cumprir os mandamentos, disse Jesus: "Se quereis ser perfeitos, ide, vendei tudo o que tendes e dai-o aos pobres e tereis um tesouro no Céu". E ante o apego do moço aos seus muitos bens, acrescentou a célebre apóstrofe: "E mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus" (camelo aqui significa uma corda). Mais adiante, conta o Evangelho, que é farto em ensinamentos sobre a riqueza, a parábola do avarento que, preocupado em acumular as suas extraordinárias colheitas, dizia: Alma minha, tens muitos bens em depósito por muitos anos; descansa, dorme, bebe, regala-te. Porém Deus retrucou a esse homem: Insensato que tu és! Esta noite mesmo virão apanhar a tua alma e para quem serão as coisas que tu ajuntaste? Interpretando essas lições segundo a letra e não segundo o espírito, poderia se inferir ser a riqueza um obstáculo intransponível para a salvação dos que a possuem. Mas a forte linguagem evangélica se destina a chamar a atenção dos homens para os riscos dessa perigosa prova que é a posse de abundantes bens materiais, prova mais difícil do que a miséria, pelas tentações que oferece e a fascinação que exerce. É a riqueza o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da sensualidade, o laço mais poderoso que prende o homem à Terra. Os que passam da miséria à fortuna, muitas vezes esquecem-se rapidamente da sua antiga posição, tornando-se insensíveis, egoístas e fúteis. Ao dizer ao jovem que se desfizesse dos seus bens para seguí-lo, não quis Jesus estabelecer o princípio absoluto da necessidade do despojamento desses bens para alcançar o progresso espiritual, mas ensinar o desapego às riquezas materiais e, em última análise, aplicar o mandamento supremo da caridade. Não são os bens em si que se constituem na fonte de muitos males, mas o abuso do seu emprego, o que é uma conseqüência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Procurando aprofundar o entendimento a respeito da riqueza, admite-se que cabe ao homem trabalhar pela melhoria material do globo, o que seria decorrência do desígnio divino de fazer as almas descerem para a encarnação no plano material como etapa indispensável ao seu progresso. O labor do ser humano na face da Terra, através dos milênios, criando e acumulando bens materiais, não é, pois, uma manifestação negativa mas o caminho indispensável da evolução planetária. A atividade necessária desenvolve a inteligência, que inicialmente se concentra na satisfação das necessidades materiais mas dá lugar mais tarde à compreensão das grandes verdades morais. É na luta imensa que se trava no campo material que as arestas da personalidade vão sendo polidas, que os conflitos pela posse insaciável dos bens conduzem à frustração que dá lugar à reflexão sobre os valores maiores do Espírito. A desigualdade das riquezas é um problema que se esclarece através da compreensão da lei da reencarnação, sem que por isso seja invalidada a busca política e econômica dos meios de reduzir essa desigualdade. A sabedoria de Deus, que guia os passos dos homens na sua senda evolutiva, utiliza a pobreza para uns como prova de paciência e resignação e a riqueza para outros como prova de caridade e de abnegação. Assim, o homem, que possui o livre arbítrio no campo moral, chega pela própria experiência fazer diferença entre o bem e o mal e finalmente a prática do bem resulta dos seus esforços e da sua própria vontade, o que lhe abre as portas dos mundos superiores. Quanto às colocações ideológicas e políticas que identificam na luta de classes a dinâmica da História e pregam a criação de sociedades mais justas através de revoluções, frustram-se elas na realidade de que as transformações através da força podem mudar as condições exteriores momentaneamente, mas não podem mudar o coração dos homens. Daí terem só uma duração efêmera, pois a fonte do egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda a natureza cessarão por si mesmos quando os homens se regerem pela lei da da caridade. O testemunho dos Espíritos desencarnados, transmitido pelas suas mensagens, atesta que o homem só possui verdadeiramente de seu aquilo que é faculdade da alma e não de uso do corpo. Ao transpor o umbral da morte, leva ele consigo aquilo que ninguém tem o poder de lhe tirar: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Depende dele, durante a sua existência terrena, ser mais rico desses bens do espírito quando partir do que quando chegou, porque sua posição futura depende daquilo adquirido que houver adquirido de bem. Os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa à sua vontade, e o homem é apenas o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente. A ele serão pedidas contas do uso que fez desses bens e infeliz daquele que os empregou apenas para a sua satisfação pessoal. Aquele que está animado pelo amor ao próximo tem sua linha de conduta determinada pela caridade. Não essa caridade fria e egoísta que consiste em espalhar o supérfluo, mas a caridade cheia de amor que ampara a desgraça, que ergue sem humilhar. Advertem ainda os Espíritos, quando consideram a brevidade da vida, quanto à preocupação incessante pelo bem-estar material e à pouca importância dada ao aperfeiçoamento moral, que deve importar na eternidade. "Quantas dificuldades, cuidados, tormentos se passam, quantas noites sem dormir, para aumentar uma fortuna, muitas vezes mais que suficiente!" E mais: "Sede sinceros: dá a fortuna uma felicidade sem mescla? Quando os vossos cofres estão cheios não há sempre um vazio no coração? No fundo dessa cesta de flores não há sempre um réptil oculto?" E ainda: "É em vão que na Terra procurais iludir-vos, colorindo com a palavra virtude o que muitas vezes é só egoísmo; que chamais de economia e previdência o que é apenas cupidez e avareza; ou de generosidade o que é somente prodigalidade em vosso proveito". Observação importante refere-se à peculiar dureza do homem que veio de modesta origem e que com o suor do rosto acumulou bens. Tende ele a dizer aos infelizes que dependem da sua assistência: Faça o que eu fiz!, em vez de ir em seu auxílio. Segundo ele, a bondade de Deus não influiu em nada na sua fortuna. Não compreende que, com toda a sua inteligência e habilidade, Deus pode derrubá-lo com uma única palavra. Ensinam os Espíritos sobre o desapego aos bens terrenos: "Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porque a fortuna não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais de que esses bens vos são confiados e que devereis justificar seu emprego como se prestásseis contas de uma tutela". Finalmente, aborda-se a questão do direito do homem de transmitir a fortuna de que é depositário aos seus descendentes. Resposta do Espírito São Luís: "O homem pode perfeitamente transmitir, depois de sua morte, aquilo de que gozou durante a vida, porque o resultado desse direito é sempre subordinado à vontade de Deus que pode, quando quiser, impedir seus descendentes de gozá-la. É assim que se vê ruirem as fortunas que pareciam tão sólidas. A vontade do homem para manter sua fortuna dentro da linhagem dos seus descendentes é assim impotente, o que não lhe tira o direito de transmitir o empréstimo que recebeu, porquanto Deus o retirará quando julgar conveniente". Essas mensagens dos Espiritos foram ditadas há mais de 130 anos. Extraordinários progressos científicos e técnicos, gerando a produção abundante de bens e serviços, embora distribuídos de forma profundamente desigual, ocorrem nesse lapso de tempo. Mas o progresso moral ainda não se alastra no seio da humanidade terrestre na proporção desejada pelos grandes mestres e missionários. O progresso econômico e a ascenção social de vastos segmentos que até então viviam subjugados pela miséria não conduziram a que se alcançasse a libertação moral. Na mais poderosa nação do planeta, diz a revista Fortune, uma das mais importantes publicações de negócios dos Estados Unidos, o dinheiro parece ser a única coisa que conta nestes dias. "Enfeitiçados pela epidemia do encantamento pelo dinheiro, os americanos nos anos oitenta contorcem-se na dança de São Vito do materialismo..." A vã perseguição que os homens empreendem aos bens materiais acabará na exaustão do fim do milênio, que segundo as profecias de todas as religiões será assinalado pelo furacão renovador que limpará o planeta das ilusões do mal, dando espaço a uma renovação espiritual da humanidade.

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